sexta-feira, 18 de março de 2011

a viagem (parte 1)

 As coisas só ganham o peso da realidade quanto mais próximas estamos delas... e assim foi.
Os últimos dias antes da partida, foram uma mistura de sentimentos e ansiedades dificeis de pôr em palavras.

Por um lado, esta é uma coisa que há muito queria experimentar. Há a excitação da novidade. De sair da rotina forçada dos últimos meses e ir fazer qualquer coisa que me apaixona.
Ao mesmo tempo, porém sinto o nervoso miudinho de caminhar para o desconhecido. Um mundo novo, com pessoas diferentes. Longe do conforto e segurança do meu pequeno quintal pessoal.
Assaltam-me algumas dúvidas - umas plausíveis, outras nem tanto. Tento não lhes dar demasiada importância. Afinal, o tempo dilui as coisas e por mais que queira, nunca serei capaz de prever o futuro. Não se adivinham os dias, nem as pessoas...
Nas últimas noites, passadas no quarto em Lisboa, pensei várias vezes que seriam as últimas horas que ali passaria durante os próximos meses. No meu pequeno casulo.

Antes de ir tentei estar com várias pessoas, para me despedir em condições, passar algum tempo com elas. Levar comigo, expressões, risos e abraços para me durarem o tempo da estadia.
Não o consegui fazer com toda a gente... claro. Aquilo que para nós é prioridade naquele dia, nem sempre o é para outro alguém...
Ficam saudades. Levo saudades.

Entre material e equipamento, roupa e tralhas várias, o saco foi pesado várias vezes até atingir o limite máximo de 31,8Kg!! mas ficou pronto nos dias antes.
Tudo chegou a tempo para ser companhia na viagem - a caixa estanque para a máquina, o flash, a lanterna, o fato (de mergulho) novo, o saco (feito por medida)... enfim. Tudo e todos (ou quase) se alinharam e no final tudo estava pronto.
                                 

 O dia chegou finalmente e levantei-me com uma sensação estranha que não soube identificar mas, que me deixou melancólico.
Nos meus pais notei a preocupação e o "coração nas mãos" que se lhes espelhava nos olhos e tentavam disfarçar entre abraços e conselhos.
No aeroporto as despedidas foram como sempre são... e lá fui eu para a sala de embarque, entregue aos meus pensamentos.
Enquanto esperava, uns últimos telefonemas e mensagens para amigos especiais de quem não tive a oportunidade de me despedir.

Londres estava já ali...

Heathrow, estava em obras e tive que apanhar um autocarro para Gatwick que, espantem-se! também estava em obras... (onde será que já vi isto?)
Check-in feito e entro para as salas de embarque para algumas horas de espera.

No aeroporto, muitos grupos de miúdos portugueses e espanhóis, concerteza a caminho de qualquer intercâmbio.
Um deles, espanhol, ensaia o seu inglês - "how are you?" - quando passo por perto. Respondo-lhe - "bien, y tú?". Fiquei sem perceber se foi maior a desilusão ou o espanto...
 
Dou umas voltas pelos balcões e compro um adaptador para tomadas e cravo uma carga ao meu leitor de mp3. A viagem que se aproxima é longa e não quero arriscar a ficar sem música a meio caminho.
A sensação com que parti de Lisboa continua latente e ainda sem identificar. É então que recebo uma mensagem já inesperada e a tranquilidade instala-se... Efeito estranho este que algumas palavras em certas alturas têm em nós...

Sento-me nos bancos corridos e leio algumas páginas de um livro de viagens, há muito desejado - "Viagens Sentimentais" do Tiago Salazar - um pouco ao estilo dos livros do Gonçalo Cadilhe mas, num tom com que mais me identifico (obrigado Carlos pela sugestão).
Ao meu lado, uma família italiana com uns miúdos a correr de um lado para o outro, super divertidos, espera também a hora de partida.


Finalmente, depois de várias horas, chega a hora de embarcar.
Enquanto espero a minha vez, ainda há tempo para responder a um inquérito sobre os serviços da companhia. Como estou sozinho torno-me um alvo fácil para uma das senhoras que, lesta se apressa a isolar-me como uma das suas "vítimas".
Aceito responder com algum prazer até... as horas sozinho começam a pesar e agradeço aqueles breves momentos de atenção.
Depois... embarco!

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