sexta-feira, 25 de março de 2011

Malé (parte 1)

Ver o dia nascer no mar e no ar foi uma estreia dupla para mim.

Por esta altura, qualquer réstia de cansaço ou sono mal dormido, desapareceu. A expectativa da chegada a Malé sobrepunha-se a tudo.

Em baixo, começava o desfile de atois, ilhas e recifes de águas azul turquesa.

Estava finalmente a sobrevoar as Maldivas.

Não tinha nenhum espelho mas, agora que me lembro, muito provavelmente parecia um miúdo de olhos arregalados, colado ao vidro, a ver passar esta paisagem tantas vezes imaginada em fotografias e filmes...

 A aterragem não tardou. 10 horas depois de levantar vôo na Europa (quase um dia depois de sair de Portugal) pisei finalmente o chão, num outro lado do mundo... 
O calor abafado dos trópicos deu-me as boas vindas.


Foi rápido o processo de imigração, passaportes, recolha de bagagens e passados uns 20 minutos, desembocava no átrio de chegada onde tinha gente à minha espera.

O Rasheed é um "faz-tudo". Trabalha no aeroporto a receber visitantes, angaria clientes para o seu hotel e acompanha-os quando partem. Para além disso ainda é o contacto do centro de mergulho para onde vou e faz a ponte entre a movimentada Malé e a recatada ilha onde vou passar os próximos meses.

O aeroporto fica na ilha contígua e os ferrys partem a cada 10 minutos para Malé.

Antes de vir, recolhi algumas informações sobre as Maldivas. A altitude máxima do país é - espantem-se -  de 2,3 metros!! (são 1200 ilhas, distribuídas por 26 atóis) No entanto, à vista de Malé, facilmente nos poderíamos enganar e julgar-nos numa qualquer cidade continental, tal é a densidade de prédios e construções.
 
A ilha-cidade fervilha de movimento e o meio de transporte ideal é mesmo a scooter cujos exemplares abundam (arrisco-me a dizer) aos milhares, numa área que se estende por (apenas!) 2 kilómetros quadrados.

O Rasheed não foge à regra e levou-me, na sua scooter (claro), para completarmos o processo do visto de trabalho (fotos, análises e Rx, etc.).

O trânsito aqui, ao contrário do que imaginava, não é caótico. 
Aos olhos de um europeu, habituado a seguir regras (muitas vezes descabidas), a fluidez e naturalidade com que esta gente se desloca nos seus veículos, pode comparar-se à que encontramos na multidão residente que encontramos na Rua Augusta. Todos sabem para onde vão, cada um ao seu ritmo e vão se desviando uns dos outros, por onde há espaço para o fazer. 
Sem atropelos e com raras buzinadelas.
É tão natural que é comum ver amigos a conversar enquanto conduzem lado a lado, zigue-zagueando tranquilamente, enquanto cumprem os seus afazeres diários.

domingo, 20 de março de 2011

a viagem (parte 2)

Foi a primeira vez que entrei num avião deste tamanho. Sei que os há maiores mas, impressiona vermos de perto estes gigantes que sulcam os céus a 11.000m de altitude. Não pude deixar de pensar na potência dos 4 enormes motores Rolls Royce que o sustentam. Talvez não volte a sentir o mesmo mas, desta vez marcou-me a sensação de pequenez.

Dirigi-me ao lugar marcado e para minha satisfação dei conta que tinha a fila de 3 bancos por minha conta. "Tanto melhor - pensei - assim posso deitar-me à vontade" (há vantagens em ser do meu tamanho).
De qualquer maneira, as pessoas que semearam os lugares do avião não chegavam para encher metade.

Guardei o bandolim e a mochila. Preparei o livro, o mp3, a cabeça e o corpo e instalei-me para a viagem que agora iniciava.
O meu mundo inteiro bailava no pensamento, rodopiando em mil vontades, desejos e saudades... Por fora tranquilo... por dentro, num desassossego ameno que alimentava a fogueira da minha ansiedade...
Nas próximas 10 horas aquele ia ser o meu cantinho.

Distraí-me com algumas séries e filmes até ao jantar que, não tardou e aproveitei para beber um "bordeaux" francês (meu rico tinto alentejano, onde estás tu quando és preciso?) na esperança de "preparar" a minha noite descansada (leia-se: ver se adormecia melhor).


Enrosquei-me o melhor que pude mas, não sei se pela posição, se pela ansiedade não foi fácil descansar...


 As horas foram correndo tranquilas. E entre passeios pela coxia, idas ao WC, copos de água e mais filmes, fomos atravessando a Europa, entrámos em África e desembocámos no Oceano Índico.
Já íamos a mais de meio quando o dia começou a despontar. Pela frente, as cores do sol espreitavam tímidas, enquanto atrás da asa a escuridão era a regra.


Lá em baixo o Índico estendia-se sem fim à vista...

sexta-feira, 18 de março de 2011

a viagem (parte 1)

 As coisas só ganham o peso da realidade quanto mais próximas estamos delas... e assim foi.
Os últimos dias antes da partida, foram uma mistura de sentimentos e ansiedades dificeis de pôr em palavras.

Por um lado, esta é uma coisa que há muito queria experimentar. Há a excitação da novidade. De sair da rotina forçada dos últimos meses e ir fazer qualquer coisa que me apaixona.
Ao mesmo tempo, porém sinto o nervoso miudinho de caminhar para o desconhecido. Um mundo novo, com pessoas diferentes. Longe do conforto e segurança do meu pequeno quintal pessoal.
Assaltam-me algumas dúvidas - umas plausíveis, outras nem tanto. Tento não lhes dar demasiada importância. Afinal, o tempo dilui as coisas e por mais que queira, nunca serei capaz de prever o futuro. Não se adivinham os dias, nem as pessoas...
Nas últimas noites, passadas no quarto em Lisboa, pensei várias vezes que seriam as últimas horas que ali passaria durante os próximos meses. No meu pequeno casulo.

Antes de ir tentei estar com várias pessoas, para me despedir em condições, passar algum tempo com elas. Levar comigo, expressões, risos e abraços para me durarem o tempo da estadia.
Não o consegui fazer com toda a gente... claro. Aquilo que para nós é prioridade naquele dia, nem sempre o é para outro alguém...
Ficam saudades. Levo saudades.

Entre material e equipamento, roupa e tralhas várias, o saco foi pesado várias vezes até atingir o limite máximo de 31,8Kg!! mas ficou pronto nos dias antes.
Tudo chegou a tempo para ser companhia na viagem - a caixa estanque para a máquina, o flash, a lanterna, o fato (de mergulho) novo, o saco (feito por medida)... enfim. Tudo e todos (ou quase) se alinharam e no final tudo estava pronto.
                                 

 O dia chegou finalmente e levantei-me com uma sensação estranha que não soube identificar mas, que me deixou melancólico.
Nos meus pais notei a preocupação e o "coração nas mãos" que se lhes espelhava nos olhos e tentavam disfarçar entre abraços e conselhos.
No aeroporto as despedidas foram como sempre são... e lá fui eu para a sala de embarque, entregue aos meus pensamentos.
Enquanto esperava, uns últimos telefonemas e mensagens para amigos especiais de quem não tive a oportunidade de me despedir.

Londres estava já ali...

Heathrow, estava em obras e tive que apanhar um autocarro para Gatwick que, espantem-se! também estava em obras... (onde será que já vi isto?)
Check-in feito e entro para as salas de embarque para algumas horas de espera.

No aeroporto, muitos grupos de miúdos portugueses e espanhóis, concerteza a caminho de qualquer intercâmbio.
Um deles, espanhol, ensaia o seu inglês - "how are you?" - quando passo por perto. Respondo-lhe - "bien, y tú?". Fiquei sem perceber se foi maior a desilusão ou o espanto...
 
Dou umas voltas pelos balcões e compro um adaptador para tomadas e cravo uma carga ao meu leitor de mp3. A viagem que se aproxima é longa e não quero arriscar a ficar sem música a meio caminho.
A sensação com que parti de Lisboa continua latente e ainda sem identificar. É então que recebo uma mensagem já inesperada e a tranquilidade instala-se... Efeito estranho este que algumas palavras em certas alturas têm em nós...

Sento-me nos bancos corridos e leio algumas páginas de um livro de viagens, há muito desejado - "Viagens Sentimentais" do Tiago Salazar - um pouco ao estilo dos livros do Gonçalo Cadilhe mas, num tom com que mais me identifico (obrigado Carlos pela sugestão).
Ao meu lado, uma família italiana com uns miúdos a correr de um lado para o outro, super divertidos, espera também a hora de partida.


Finalmente, depois de várias horas, chega a hora de embarcar.
Enquanto espero a minha vez, ainda há tempo para responder a um inquérito sobre os serviços da companhia. Como estou sozinho torno-me um alvo fácil para uma das senhoras que, lesta se apressa a isolar-me como uma das suas "vítimas".
Aceito responder com algum prazer até... as horas sozinho começam a pesar e agradeço aqueles breves momentos de atenção.
Depois... embarco!

quarta-feira, 16 de março de 2011

semana 1


Já passou uma semana desde que aqui cheguei e até agora as coisas têm corrido bem.
A viagem para cá chegar foi um filme mas, acabou por ter as suas vantagens e cheguei inteiro que é o que interessa.

Agora estou na hora de almoço (em PT alguns ainda estão a dormir, outros estarão a acabar de se levantar) mas, mais logo (para vocês será da parte da tarde) vou fazer um pequeno flashback e descrever-vos as peripécias da viagem para cá e as primeiras impressões da ilha, das pessoas com quem estou a trabalhar, os primeiros dias... etc..

Agora deixo-vos a acordar e espero encontrar-vos mais logo.

aquele abraço...

terça-feira, 15 de março de 2011

no princípio...

olá meninas e meninos, ainda estou a aprender estas coisas dos blogues, definições, designs, etc., etc. de maneira que depois do dia de hoje (muita água) não me apetece fazer muito mais que dormir e descansar.

Se me ajeitar com isto, nos próximos dias começo a pôr-vos a par das coisas por aqui, com descrições mais pormenorizadas e com mais fotos.

aquele abraço!