terça-feira, 5 de abril de 2011

Malé (parte 2)

Foram várias as vezes que, desde a chegada, senti uma curiosidade quase infantil que me fazia querer espreitar para lá de cada esquina dobrada e descobrir cada momento desta cidade tão diferente em pessoas e costumes.

Depois de cumpridas as obrigações, fui deixado à solta pela cidade. O Rasheed tinha compromissos familiares e combinámos encontrar-nos dali a umas horas para voltarmos ao aeroporto, onde iria apanhar um vôo para uma ilha mais próxima do meu destino final.

Primeiro fui ao supermercado comprar algumas coisas para levar comigo. Ao mesmo tempo aproveitei para espreitar que produtos podemos encontrar nesta parte mundo...
Entre shampoos, desodorizantes, aperitivos desconhecidos e coloridos, doces e salgados, frutas estranhas, comidas e especiarias fui surpreendido por descobrir que, às vezes,  o nosso mundo pode mesmo ser pequenino...

Como explicar o que senti ao encontrar estes pequenos nadas que, tal como amigos silenciosos, estão sempre presentes e nos adoçam as memórias?

Devo ter sorrido de alguma forma pois as poucas pessoas na loja que se aperceberam do momento, olharam-me e sorriram de volta ao observarem este estranho, parado em plácida contemplação de uma simples prateleira de chocolates.


Se há alturas em que a globalização pode ser reconfortante, esta é uma delas...

Embora já corresse a hora de almoço, o meu corpo, talvez distraído em absorver tudo o que de novo desfilava perante mim, não sentia ainda a necessidade de repôr energias.

Disposto a perder-me um pouco sem destino, caminhei pelas ruas, decidido a ir onde as pernas me levassem.

Os sons e a dinâmica da cidade, não me eram estranhos de todo. Afinal de contas, aqui ou em qualquer lado do mundo, uma capital não deixa de o ser, só por estar rodeada de uma beleza natural digna de postais.

Lojas, restaurantes, mercados, pessoas e trânsito entrelaçavam-se no tecido deste cantinho do mundo.

De passo em passo, dei por mim à porta do museu nacional!
O edifício é novo, com uma arquitectura luminosa. Lá dentro, o fresco do ar condicionado abrigava-me do calor abafado da rua.
Fui informado que não poderia tirar fotografias... tudo bem - pensei - a memória não vive só nas fotografias.

A exposição incluia muitos artefactos locais (muitos feitos em pedra de coral); a maioria ligados aos cultos mas, também ao dia-a-dia. Modelos de barcos locais (os dhonis), peças de roupa e turbantes, espadas, mesas e cadeiras finamente esculpidas, pertencentes aos sultões de várias épocas, vários livros do Sagrado Corão e também uma pequena secção da vida natural (subaquática) que podemos encontrar nestas águas...
A pouca informação disponível e a repetição de peças muito parecidas umas com as outras acabou por se tornar cansativa e ao fim dos três andares de exposição, saí aliviado para o calor.







 Já antes tinha reparado num jardim e foi para lá que me dirigi.



 











O local convidava a uma paragem e depois da visita ao museu, a pausa soube bem.



Um pormenor que, para mim foi inicialmente chocante mas, que depois compreendi, foi o facto de o chão nas ruas estar coberto de coral!! Na verdade, a pedra de coral aqui, é uma matéria prima usada em praticamente todo o lado.








A cidade é pequena e aqui os caminhos vão dar ao mar... mas, até lá chegar não nos podemos esquivar da vida local.






Um avô passeia o seu neto, numa cena bucólica digna de qualquer parque.
De um lado a mesquita; do outro o quartel militar da cidade.

























Mas o mar está já ali, ao fundo da rua e ao redor do mar gira a vida aqui.
Nalguns sítios podemos recordar a presença de outras culturas nestas paragens (portugueses incluídos).

Mais uma paragem e mais umas fotos.
Numa delas... reparo num velhote, com um peixe na mão... mal tenho tempo de apontar e disparar mas, ficou-me a curiosidade.
De onde viria ele? Concerteza do mercado do peixe. "Isto eu quero ver!" Com este objectivo em mente, segui na direcção contrária e cada vez mais os indícios me apontavam que estava no caminho certo...
Não sou estranho a estas incursões em locais fora dos circuitos turísticos da cidade. Desde cedo, por influência dos meus pais, a minha curiosidade foi estimulada para espreitar os cantos mais recônditos e certamente mais interessantes, por oferecerem uma paleta diferente de cores, sabores e imagens.

Após uma breve caminhada a azáfama tão típica dos mercados de peixe abriu-se de par em par e revelou-se.


Deixo as imagens falarem por si.











Mas não satisfeito com esta pequena "prevaricação ao circuito", decidi continuar em frente, já que a cidade se adivinhava mais interessante nesta direcção.
Fui recompensado com mais um mercado. Desta vez as frutas e os vegetais tomaram o lugar das cores e cheiros.

 





Muitas coisas conhecidas, muitas mais, desconhecidas...
A vontade de trincar algumas daquelas frutas, tão apetitosas à vista, teve que ser refreada.
Não me atrevi a experimentar, ainda receoso que o estômago não pudesse acompanhar o desejo.



As horas avançaram sem eu dar por isso, mas o corpo lembrou-me que alguma comida seria bem-vinda. Aproximava-se também a hora combinada para me encontrar com o Rasheed.
Voltei para trás, contrariado e espreitando por cima do ombro, para poder recordar vislumbres daquela parte da cidade que iria manter os seus cantos um segredo para mim.


4 comentários:

  1. Consegui ver-te dentro do supermercado a sorrir para os chocolates! lol
    e de olhos arregalados para os peixões!!!
    Bjnos!!
    Xana

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  2. Se há guloseimas que, cada vez que como, me lembro de ti, são os mentos :-)
    Ainda me lembro de muitas vezes em Évora serem o teu jantar!
    Beijinhos grandes
    Tania

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  3. ...e assim nasce o livro.

    Oi Dinis! Já sei que estás no Paraíso...eheh
    Tudo a correr bem por ai...e vai continuando a escrever, que nós por cá...gostamos de ler!

    "Se não escreve, a vida parece-lhe incompleta.
    Talvez escreva para senti-la completar-se na vida de quem o ler."

    Beijinhos e Força!
    Joana Grilo

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  4. Tanita: desta vez fiquei-me pela fotografia... os mentos apenas me trouxeram boas recordações.

    Joana: obrigado pelo comentário :) tu por onde andas? será que se combinarmos uma cervejinha com esta antecedência toda, conseguimos juntar-nos para a beber? ;)

    beijinhos

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